Por altura do Natal de 2019, “lá para os lados da China” éramos alertados (sem o devido cuidado e prevenção) que algo de anormal se passava para aqueles lados. Um vírus estranho, isolamentos forçados, alguma (muita) violência à mistura, mas … lá continuámos nas compras e na deliciosa ceia de Natal como se nada fosse connosco. De repente … entra na Europa e em pouco tempo temos uma Pandemia incontrolável!
Viveu-se momentos histéricos e, por vezes, inadmissíveis por parte da comunicação social (quem não se lembra do triste espectáculo à procura do primeiro “portuga” infectado e o triste show que foi quando “finalmente” o encontraram). Informação e contra-informação proliferava e nós no meio sem muito bem “saber o que fazer”.
Com algumas hesitações governativas (e de todos nós) pelo meio, em meados de Março, o país trava, a fundo, e com regras próprias para um confinamento obrigatório da grande maioria da população. Ficámos todos meio atordoados com a situação (que desde o Natal andávamos a tentar negar que existia). Para além da “corrida ao papel higiénico” (que se tornou um caso de estudo pela forma como este bem foi tratado) e, felizmente, o de escaços casos de açambarcamento, o nosso colectivo teve, grosso modo, na minha opinião, um comportamento exemplar nos meses subsequentes no que respeita a cumprir as regras estipuladas pelo Governo para todos.
Paragem total, atónitos, meio perdidos, surpresos …
Face à impossibilidade de dar formação presencial, comecei a pensar em alternativas. Zoom? Teams? Webex? Até o velhinho Skype … começam a cair no meu computador como potenciais alternativas e eu … comecei, na hora, a olhar para estas plataformas com outra perspectiva, isto é, uma perspectiva mais “operacional” e menos de lazer ou meramente comunicacional.
Faço parte do PMI Portugal Toastmasters e, logo na primeira semana de confinamento, fizemos a nossa sessão semanal com recurso a plataforma “Zoom”. Simplesmente a adorei e vi, na hora, muito potencial e uma fonte de oportunidades para trabalhar.
Facto contínuo, com a Vantagem+, em pouquíssimos dias executámos, com sucesso, um primeiro teste de como adaptar a plataforma (ou outra) ao core business (processos de formação presenciais) que a empresa fornecia aos seus clientes. Vivia-se momentos de algum desconhecimento, exploração, mas também de esperança e até alguma euforia com a alternativa encontrada. Em poucos dias avançou-se com formação em Online Live Training (OLT) (no meu caso, após vários webinares que ministrei ainda em Março com o tema “Gestão de Continuidade de Negócios” (tema muito em voga com a questão da Pandemia por fundo), a 06 de Abril ministrei uma formação, com muito sucesso, em “Business Process Management” a três formandos de empresas distintas, estando dois deles no Continente e o terceiro nos Açores, todos … nas suas casas).
Do ponto de vista dos resultados no contexto das formações que ministrei, afirmo convictamente que, estando reunidas as condições tecnológicas base exigidas, isto é, a infra-estrutura tecnológica (das partes envolvidas) que suporta a formação ser robusta, o produto resultante é exactamente o mesmo que numa formação presencial.
Este modelo, um complemento de formação síncrona com recurso a uma plataforma tecnológica online, provou, e tem provado até hoje, que é uma alternativa MUITO credível ao “antigo” modelo de formação presencial normalmente instituído.
Naturalmente que tendo a felicidade de viver num país em que a infra-estrutura tecnológica é de primeira linha, e sendo este um Factor Crítico de Sucesso (FCS) associado a outros que necessariamente/obrigatoriamente já existiam no modelo “tradicional”, ajudou muito na implantação do modelo e o respectivo sucesso.
Hoje vivemos um momento intermédio (entre o início e o fim da pandemia) e, cada vez mais, sentem-se hesitações nas Organizações em decidir o que fazer face ao desconhecido. Naturalmente que isso se reflecte directamente na formação, isto é, com as restrições orçamentais inerentes à respectiva operação cada vez mais apertadas, as Organizações, duma forma geral, evitam a toda a força assumir mais custos no presente e, também, em cima dum futuro próximo ainda muito desconhecido.
No entanto, na minha opinião, para as Organizações que possuam uma tesouraria saudável é um erro não aproveitar este momento “morno” da economia, em que de certa forma parte dos seus colaboradores estão “forçosamente em casa”, e não aproveitar, através duma aposta clara em formação num modelo de Online Live Training, qualificar/requalificar os seus colaborares para que possam, num futuro próximo, responder aos exigentes desafios que seguramente aí vêm. Com esta decisão, optimizavam temporalmente o facto de o colaborador estar em casa, trabalhando e se formando/actualizando com vista ao seu regresso em pleno à Organização e valorizando os seus conhecimentos.
Todos ansiamos pelo fim da Pandemia. A questão que se coloca, até para nos prepararmos em função das potenciais respostas, é … “como irão ser os processos operacionais das Organizações quando regressarmos ao “novo normal””?
Antes de se definir uma verdadeira estratégia a seguir, primeiro teremos de fazer uma análise cuidada do sucedido, com decisões/escolhas suportadas em dois vectores: os erros, sucessos e insucessos ocorridos no pré e durante a Pandemia e, sobretudo, assumir frontalmente as lições aprendidas e implementar as recomendações delas resultantes.
Cada Organização, cada um de nós, nos mais diversos contextos e, com toda a certeza, em intensidades diferentes, de alguma forma, foi afectada(o) pela Pandemia. Cabe a todos olhar de frente para o sucedido, aprender, corrigir/melhorar o que falhou e, sobretudo, aproveitar as oportunidades que, entretanto, apareceram (como por exemplo a massificação do modelo de formação presencial em Online Training).
A Pandemia fez os muitos estragos, mas, assim o espero, também nos fez despertar para outros contextos, outras formas de trabalhar, olhar para nós próprios como colectivo e, se realmente aprendermos alguma coisa com isso, sermos melhores e não cairmos nos mesmos erros que incorremos no passado.
No que respeita ao contexto específico da formação, o modelo de Online Live Training que de repente foi massificado, na minha opinião, veio para ficar como uma grande mais-valia face ao modelo “tradicional” e com custos mais “simpáticos” para todos.
Nada ficará como dantes e os processos de trabalho que vigoravam antes da Pandemia, terão, muitos deles, de ser redesenhados e ajustados ao “novo normal”!
Trabalhemos, acreditemos e … venham novos desafios para a nova realidade!!!

João Marques
Licenciatura em Informática de Gestão e Mestrado em Gestão de Sistemas de Informação
Professor Universitário, consultor e formador
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