Parte 1: As bases do empreendedorismo e o ecossistema empreendedor
No atual contexto económico, a noção de trabalho é cada vez mais posta em causa. A sua importância no processo de produção e comercialização de bens e serviços tem-se modificado substancialmente, derivando desta realidade o crescimento exponencial do desemprego um pouco por toda a parte.
Neste clima de incerteza e num mercado de trabalho cada vez mais saturado, muitos trabalhadores ponderam as suas competências, despertam as suas paixões e avançam no sonho de ter um negócio próprio. Desta forma, podemos afirmar que a dinâmica empreendedora resulta quase sempre:
- de condições adversas que empurram as pessoas para a necessidade de criar o seu próprio posto de trabalho, a que chamamos empreendedorismo de necessidade
- de condições conjunturais favoráveis ao aproveitamento de competências na criação do próprio posto de trabalho, a que chamamos empreendedorismo de oportunidade
Seja por necessidade ou por oportunidade, o empreendedor é definido com alguém que corre risco pois investe o seu capital num projeto próprio. O risco é assumido com base numa atitude dinâmica e ativa, num espírito de iniciativa e proatividade. Esta atitude assenta num conjunto de caraterísticas que correspondem a um perfil tipificável, a que chamamos perfil do empreendedor e que abaixo é descrito:
- ambição: ter uma ideia e acreditar na sua concretização
- autoconfiança: assumir a capacidade de meter essa ideia em prática
- iniciativa: avançar com a implementação, ultrapassando a inércia
- determinação: trabalhar com afinco e não deixar de acreditar
- aceitar o risco: assumir que o projeto tem riscos e conviver com eles
- energia: ser o motor do processo de concretização da ideia
- persistência: não desistir quando surgem as dificuldades
- flexibilidade: ajustar o projeto à realidade, sem perder de vista a ideia base
- decisão: não ter medo de decidir, fazendo-o atempadamente
- responsabilidade: assumir que é responsável pelas coisas boas e más
- controlo: manter o projeto sob controlo a todos os níveis
- conhecimentos técnicos: conhecer a atividade, o produto/serviço e o mercado
- trabalho em equipa: congregar o trabalho de todos em torno do projeto
- liderança: ser o sonhador, o visionário, o motivador, o farol
- não temer o fracasso: aceitar que as coisas podem correr mal, ter força para alterar e recomeçar se necessário, ser atento e humilde mas convicto
Vamos agora abordar o ecossistema do empreendedorismo. A nível mundial, com base no Relatório Global de 2016/2017 da Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2017) podemos concluir o seguinte:
- Nas principais economias mundiais (61 países) 2/3 da população adulta valoriza positivamente o empreendedorismo e os empreendedores.
- Cerca de 42% desta população está disponível para iniciar o seu próprio negócio e 22% pretende mesmo iniciá-lo nos próximos 3 anos.
- As principais carências detetadas são estruturas físicas de suporte (incubadoras[1] e aceleradoras[2]) e programas de mentorado[3].
No que respeita a Portugal, o clima empreendedor tem sido fortemente impulsionado pela transferência para o nosso País da conferência Web Summit, em resultado das medidas de apoio tomadas pelos últimos governos, em parceria com institutos públicos, autarquias, escolas e associações empresariais.
A este respeito, a Informa DB publicou em maio passado o estudo “Empreendedorismo em Portugal” (informa DB, 2017), no qual indica como principais conclusões:
- Os portugueses estão mais empreendedores, tendo-se iniciado em 2013 um ciclo de expansão com pico em 2015, o melhor ano para o empreendedorismo em Portugal.
- O perfil das startups mudou, verificando-se mais iniciativas individuais e de menor dimensão, mas com perfil mais exportador. A região de Lisboa ultrapassou a região Norte do país. O Alojamento e Restauração e as Atividades Imobiliárias têm ganho relevância na dinâmica empreendedora nacional.
- As startups marcam as tendências do mercado e têm um papel muito relevante na criação de emprego e na renovação setorial.
Ainda de acordo com a Informa DB podemos considerar como principais indicadores da dinâmica empreendedora em Portugal:
- 000 novos empreendedores por ano, 75% dos quais são gerentes do seu negócio e 64% são empresários pela primeira vez;
- 94% das empresas são detidas exclusivamente pelos seus empreendedores;
- No ano em que iniciam a sua atividade as startups têm um volume de negócios médio de 65.000 €, um número médio de 2,3 empregados e 11,6% são exportadoras.
- A sobrevivência das startups é de 53% ao 3º ano de atividade e de 42% ao 5º ano, sendo que só ¾ das startups constituídas iniciam a atividade.
Não perca a 2ª parte deste artigo onde abordaremos…
…O processo de Empreendedorismo e os Erros a Evitar!
José Alberto Pereira
Formador e professor universitário
Mestre em gestão de empresas
[1] Definimos incubadora como uma estrutura de suporte destinada a projetos empreendedores recém-criados, cujo foco reside no apoio operacional, administrativo e legal.
[2] Definimos aceleradora como uma estrutura de suporte destinada a projetos empreendedores já em atividade (empresas early-stage), cujo foco reside no apoio de mercado, de marketing e estratégico.
[3] Definimos como mentorado a atividade de suporte e orientação propiciada a empreendedores por pessoas experientes na sua atividade, com foco no apoio comercial, de marketing, estratégico, legal e financeiro, entre outros.
Deixe uma Resposta